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A Casa Contemporânea, dando prosseguimento aos eventos previstos para a abertura do espaço, realiza a exposição ENTREATOS I.
Enquanto na primeira exposição (DesOcupação) os ambientes eram utilizados no estado em que se encontravam, agora os artistas interagem com a casa em processo de mutação devido à reforma para adapta-la.
Eles foram convidados a visitar o local e propor seus trabalhos e/ou intervenções. Necessariamente não havia algo que os unisse, enquanto solução propositiva, durante as conversas inicias; porém naturalmente surgiram pontos de contato entre as propostas: alguns lidaram com a questão da memória e outros com intervenções espaciais .
Adriana Affortunati realiza dois trabalhos que recebem o visitante da casa. Um deles localiza-se no jardim, mais precisamente na árvore, onde ela pendura “frutos” que se alimentaram da própria demolição e ficam ali em um processo de maturação, dançando ao sabor do vento sob os olhares das pessoas. Na entrada da garagem está instalada sua outra intervenção: pendurada no teto parcialmente demolido, sua “escada” não conduz alguém para um ponto mais alto, mas sim cansou-se de sua função e agora se agarra a este ponto para ser outra coisa, talvez inútil ou desnecessária, mas com certeza nos questionando e fazendo pensar.
O grupo de pesquisa teatral Os Parafernálios abre o processo de elaboração de uma peça, algo semelhante a um ensaio aberto, onde lidam com o retorno dos espectadores para alimentar seu desenvolvimento. Composto por várias etapas como aquecimento, preparação vocal e uma cena estrutural desta futura montagem onde lidam não só com o apego que temos com os espaços que ficam gravados em nossa memória mas também com o medo que temos das mudanças.
Jaime Lauriano traz, literalmente, uma caixa de memórias; sem um dono específico, ela liga-se ao nosso imaginário através de objetos reconhecíveis e em geral descartáveis, mas que pelo seu valor sentimental ou reminiscente mantemos guardados e chamamos carinhosamente de tralhas ou bugigangas. Seu trabalho completa-se com as “marcações” na parede do hall superior que é uma feliz coincidência: o antigo proprietário da casa marcava a altura de seus netos em uma das portas de armário existentes.
Marcelo Salles intervem no espaço com “Homenagem a Matta-Clark”. Gordon Matta-Clark, artista nova iorquino do final da década de 60/ começo dos 70, ficou conhecido por suas intervenções no espaço ou na estrutura de construções abandonadas ou em vias de desaparecer; Marcelo se aproveita do espaço para descontextualizar uma parte da casa (uma porta) e deixar que ela adquira outro significado.
Felipe Barros, jovem e premiado artista da área áudio visual que se apresentou na mostra DesOcupação, apresenta dois vídeos: Arbanella e 98001075056. O primeiro, selecionado para o prêmio Porto Seguro deste ano, edita trechos de filmes em Super 8 de uma mesma família de forma terna e sem pieguice. Já o segundo, também chamado de RG, abandona a ternura para mostrar o inexorável caminhar do tempo e lembrar o quanto somos tributários desse caminho.