Rating: | |
Category: | Other |
Reflito, intrigada, sobre aquilo que comumente chamamos de referência em arte, como que esta fosse condição primeira para contextualizar uma obra dentro de algum discurso “sério” que legitime todos os motivos “fundamentais” para a elaboração da produção artística. Desconfio das palavras que antecedem a materialização da obra, talvez pela minha longa experiência no acompanhamento de projetos cujas naturezas, beiram ao imponderável. O alimento do artista,aquilo que para ele é capaz de transformar todo o seu pensar e fazer arte, é o que acredito ser “referência”, podendo este vir de fontes e lugares nunca antes “navegados”, ainda que pavimentado por pesquisas incansáveis entre livros e materialidades distintas. Aquilo que move o artista pode estar impregnado nas superficies das calçadas, na terra vermelha que tinge os pés, as roupas e numa metáfora ser transformado em “combustível” para uma longa produção em pinturas sobre lona intituladas “Marcas de Passagens – série chão” de Marli Fronza, que acompanho desde 2006, por ocasião de sua participação na residência artística do“Atelier Amarelo” em São Paulo. Essas marcas, transmudadas, aqui também se apresentam na performance “Inevitável”, elaborada sob a orientação de Gustavo Sol, onde Marli opera uma ação rotineira e repetitiva do preparo da comida,da arrumação e limpeza dos pratos, copos, mesa, com gestos precisos, calmos, mas de grande densidade dramática, aos poucos o limpar transforma-se em um sujar sem controle e a terra imunda todos os objetos de cena, são as marcas, cicatrizes veladas que emergem no silêncio do desejo domesticado.
Neil Milanezi, desenvolve a série de desenhos “Hipótese de uma primavera perpétua”, fomentada pelas inquietações provocadas pelas imagens das tragédias recentes estampadas em jornais japoneses, que se contrapoem aos delicados desenhos de crianças, gueixas e atores de Kabuki. Nesta série, passado e presente tecem e tencionam outras narrativas que, segundo Neil seguem às avessas, a profecia de uma hipótese de uma primavera perpétua, provocada pelo deslocamento do eixo da terra, comentada na obra “Pluralidade dos mundos habitados”(1862) do astrônomo francês Nicolas Camille Flammarion (1842-1925), onde o autor discursa sobre a habitabilidade deste e de outros mundos a partir dos estudos comparativos do sistema solar. De um lado “os jornais mostram personalidades e a loucura da exposição midiática e sua atração pelo escândalo, crime e tragédia, e a
mistura perigosa com outras coisas mais prosaicas, a programação da tv, padrões de beleza, etc e que para mim (Neil) criam outras narrativas.”
Pintura, performance, quadrinhos, jornal, colagem, desenho, ambos artistas desenvolvem suas poéticas inflamados pelas imagens, ou melhor pelas sensações de cor, corpo, tinta, papel, lapis e sem preocupações com modismos contemporâneos buscam aquilo que realmente importa no processo da construção dos sentidos de suas obras.
É com grande satisfação que apresento Marli Fronza e Neil Milanezi, contemplados com o prêmio “Incentivo `a produção artística” no III Tatuiart 2011 realizado pela AMART Cultural, com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Ponto de Cultura, Mais Cultura, Ministério da Cultura e do Governo Federal, pela primeira vez em São Paulo, na Casa Contemporânea.
Katia Salvany
Visitação: segunda a sexta das 14 às 19h.
sábados das 11 às 17h.
Casa Contemporânea
rua Capitão Macedo, 370 - Vila Mariana - SP
casacontemporanea370@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário