Exposição dos artistas do Pigmento pode ser visitada até 04 de maio.
“ Um jovem decide viver nas árvores após uma discussão com seus pais.
É Assim que, efetivamente, ele não
torna a por os pés em terra, nem no momento de sua morte, mas não deixa de
acompanhar o espírito de seu próprio tempo, ainda que à sua maneira”
. . .
A exposição Tão Perto, Tão Longe
traz obras dos integrantes do PIGMENTO, grupo de artistas formado em julho
de 2011 e que se vale da pintura como sua principal linguagem.
Durante aproximadamente seis meses, em nossas reuniões quinzenais,
discutiu-se o que seria esta exposição, qual seria seu eixo. Optou-se por ter o
próprio parque como este eixo ou
tema. Apesar de uma aparente obviedade, o processo de discussão do PIGMENTO
possibilita justamente a fuga do óbvio; nos encontros que fazemos não
discutimos uma linguagem, a pintura, mas uma compreensão da arte contemporânea em sua amplitude,
pintura evidentemente incluída,
que nos faz lidar com filosofia, estética, política, ecologia, enfim,
assuntos que são os componentes da arte de nosso tempo. Para esta exposição
houve discussões sobre trabalhos de outros artistas que tenham lidado com esta
temática, visitas ao parque, individuais ou em grupo, análises do desenvolvimento dos trabalhos pelos colegas , leituras variadas e mesmo a democrática escolha do
nome da exposição.
. . .
No início deste texto há uma sinopse de um livro, O Barão nas Árvores de Ítalo Calvino, que foi recomendado aos integrantes durante o processo que
culminou nesta exposição. Como dito acima, o personagem principal, o barão
Chuvasco de Rondó, passa a viver nas árvores mas de forma relativamente normal,
integrado ao espírito de seu tempo e fiel as suas convicções. À certa altura
ele diz
“ Aquele que pretende observar bem a terra deve manter a necessária
distancia”
Mas qual seria essa distancia? Tão
Perto, Tão Longe não traz a resposta para essa questão mas sim um conjunto
de respostas questionadoras. Respostas porque tentam individualmente elucidar ,
através do que está visível no parque , sua essência; questionadoras porque ao
mesmo tempo que parecem nos aproximar desta essência ela pode fugir de nós sem nos
darmos conta, preservando-a para nos surpreendermos a cada vez que olharmos os
trabalhos. Para isso contribui a diversidade de olhares ou poéticas presente
nos trabalhos. Dito de outra forma: normalmente o que está próximo de nós, o
que vivenciamos cotidianamente por exemplo, tende a tornar-se invisível e , por
isso, se afasta de nós, porém essa invisibilidade se faz no espírito, no
intelecto ou como compreensão. A arte possui este poder de aproximar o que está
longe por meios que não são exclusivamente visuais, ainda que os olhos sejam a
porta de entrada.
. . .
Entre o barão do livro e
um artista há muitas semelhanças. O artista também não possui uma
diferença, para melhor ou pior, da
maioria das pessoas. O que o diferencia é uma certa inadequação ao mundo como
ele é, um deslocamento, que permite a ele enxergar este mesmo mundo de maneira
não usual e acaba por tornar-se uma necessidade ser fiel a estas convicções. Como
bem disse o barão Chuvasco de Rondó em outra passagem do livro:
“ Vivo há muitos anos por ideais que não saberia explicar nem a mim
mesmo”
Marcelo Salles
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