Livro das Horas - detalhes |
Procissão, 2013 instalação com pares de sapatos e voal |
No dia 08/06 a artista Clarice Vasconcelos estará na Casa Contemporânea para um bate papo sobre sua exposição. Sábado, as 15:30.
Rua Capitão Macedo, 370 - Vila Mariana - SP.
Pedimos confirmar presença pelo e-mail casacontemporanea370@gmail.com ou pelo telefone (11) 2337-3015.
um texto sobre Matraca, por Marcelo Salles:
Matraca
ou a Incompletude das Coisas
Estamos
fadados a ser incompletos. E fadados a procurar uma complementação.
Religião,
dinheiro, poder, cultura, arte. Como a vida não basta, criamos
escoras que nos sustentem ou aplaquem a insatisfação. Arte e
cultura parecem sair-se melhor nesta tarefa mesmo que,
paradoxalmente, venham perdendo importância e/ou venham a reboque
dos demais.
A
religião, por exemplo, adquiriu uma assustadora relevância nos dias
de hoje; desta forma é difícil para um artista contemporâneo lidar
com a questão sem ficar refém ou do politicamente correto ou do
“chocar” gratuito.
Clarice
age em outra chave. Tanto a instalação Tô
de olho em você como Lave
main tem uma ironia leve, nada
cínica ou caustica que podem nos atrair justamente por isso. Porém,
tanto a instalação sonora que dá nome a exposição (Matraca)
quanto Sexta-feira,
ainda que possuam este caráter de leveza são mais críticas.
Através de palavras encadeadas e ditas em torrente Matraca
vai construindo mentalmente em
quem escuta imagens ou conceitos. Sexta
feira, com sua leveza
metafórica e visual foca um assunto mais complexo e espinhoso: o
sincretismo religioso e, conseqüentemente, a falsa idéia de sermos
um povo sem preconceitos.
Procissão
afasta a concepção leve ou
irônica e tem um viés mais questionador: ela torna explicitas
nossas diferenças? Estar em um mesmo local, com um mesmo objetivo,
nos torna “iguais”? E quando esta atividade cessa, voltamos a ser
diferentes ou nos conscientizamos de nossa origem comum? Aceitar uma
convenção social episódica nos absolve de pensar coletivamente?
...
A
exposição Matraca não
fala de religião. Fala de reminiscências.
São
as lembranças de uma educação rígida em colégio religioso em
contraponto ao avô que se paramentava de branco para ir à sessão
de candomblé. Estar em um culto ou atividade católico e a cabeça
voando com outros pensamentos e palavras.
Essas
reminiscências são as verdadeiras escoras onde estamos apoiados. A
partir delas vamos construindo nossas histórias, tentando sanar
nossas incompletudes, escrevendo nosso livro no tempo. Não é
gratuito que um dos trabalhos da exposição seja chamado Livro
das Horas.
...
A
arte ainda é capaz de falar ao outro, de dizer algo sobre o que
somos e como somos. Não sejamos ingênuos, porém.
Quando
o artista fala de si, de forma honesta, ele fala de todos. Ainda que
o entendimento não seja pleno o dialogo se inicia e colocamo-nos em
contato.
Não
fugimos do que somos. Principalmente quando optamos pela arte.
Marcelo
Salles
A exposição foi incrível! As obras levaram o visitante, de uma forma sutil, aconchegante, porém instigadora, a refletir sobre si próprio em diversos âmbitos. Parabéns à artista Clarice Vasconcellos!
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