A exposição "Matemática da Paisagem"está em cartaz na Casa Contemporânea até 17/08, sábado.
Matemática
da Paisagem
trabalhos
recentes de Cesare Pergola
Nomeada
Matemática da Paisagem – escolha do próprio artista para
esta individual na Casa Contemporânea – revela muito sobre os
trabalhos, mas mantém em suspenso juízos que podemos elaborar ao
vê-los.
Cesare
Pergola nasceu em Limosano e em Florença desenvolveu trabalhos em
teatro experimental, performances, instalações e, em paralelo, em
sua área de formação: arquitetura. Que suas paisagens surjam de
programas de desenho arquitetônico, com sua rigidez algoritmica e
abstrata, torna-se natural. Em uma série anterior de trabalhos,
Cesare também se utilizava destes programas, porém de maneira
diversa; reproduzia imagens em pequena escala criando padronagens que
se integravam compositivamente e eram impressas em tela sem
interferências manuais.
Nestes
trabalhos recentes as mudanças propiciaram uma maior interação
compositiva com os meios utilizados(desenho, serigrafia, vídeo e
pintura).
As
composições continuam sendo geradas por computador, mas agora são
mediadas não por um artefato tecnológico e sim pela mão do
artista. É ela que confere aos trabalhos um “amolecimento” das
linhas e uma imperfeição humana, principalmente nos desenhos a
nanquim. Acertadamente, Cesare mantém o registro rígido do desenho
computadorizado num meio mais adequado, o vídeo, enquanto os
desenhos são feitos a partir de vistas vetorizadas geradas pelo
principio matemático de “elementos finitos”, onde os planos
topográficos se dão por linhas espaçadas (maior planaridade) ou
concentradas (topografia mais acidentada), copiadas traço a traço,
onde demoramos a perceber a composição que vemos.
Com
as pinturas o processo é um pouco diferente, ainda que a matriz seja
a mesma. E aqui se revela outro dado para nossa apreensão destes
trabalhos. Muitas vezes uma cultura clássica e onipresente torna-se
um fardo difícil de carregar; ninguém convive com a sombra do
Duomo de Florença
naturalmente...
As
pinturas de Cesare, sejam as que resolvi denominar “matizadas”
(paisagem azul 1 e 2, paisagem amarelo 1 e paisagem com arcos)
ou as “pretas” (paisagem preto e azul, paisagem preto e
verde, paisagem preto e vermelho e paisagem preto e amarelo),
guardam uma ambiência da pintura metafísica de De Chirico e de
Mário Sironi mas também de um distante Paolo Ucello. Cesare, em
certa medida, consegue lidar com o fardo histórico da arte italiana
de uma maneira própria, o que não é pouco. Assim como os
metafísicos, para usar as palavras de Argan, ele cria uma “outra”
realidade onde elementos inconcilíaveis coexistem placidamente, mas
cria seu léxico próprio seja nas cores duras das pinturas “pretas”
ou numa expressividade cromática mais rebaixada nas “matizadas”.
Por outro lado, ao utilizar a perspectiva e sua construção
matemática exata Cesare também deixa de usar os efeitos de luz e
sombra optando por não suavizar os contornos das pinturas de forma
clássica mas fazendo isso cromaticamente (nas “matizadas”) ou
através da enfatização polarizada do branco e preto (nas pinturas
“pretas”); porém onde Ucello deixa de usar artifícios por
desconhecimento técnico (como exemplificado por Gombrich) Cesare
opta por fazer ou não o uso destes mesmos artifícios que ele
demonstra dominar.
Talvez
seja por esta circularidade de referências, técnicas, meios que
estes trabalhos recentes nos causem interesse. Quase como o funambulo
que, em sua corda bamba, se equilibra de forma arriscada mas nunca
deixando de seguir em frente.
Marcelo
Salles
Visitação:
de segunda a sexta das 14h às 19h.
sábado das 11h às 17h.
rua Capitão Macedo, 370 - Vila Mariana - SP
www.casacontemporanea370.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário